Nossa primeira expedição na Puna do Atacama até então já tinha dado ótimos resultados. Eu, Luciana Moro e Pedro Abrão havíamos feito o San Francisco 6018 m, Ojos del Salado 6893 m e o Tres Cruces Sur 6748 m. Para coroar a expedição ainda faltava o Pissis com 6795 m.
No dia 05/03/2018 após a ascensão ao Tres Cruces Sur fomos para a Aduana de Maricunga para dar saída do Chile.
Contudo, quando chegamos por volta das 11 horas da manhã a mesma estava sem energia. Haviam bastante turistas naquele momento tentando cruzar o paso San Francisco, mas não havia previsão do restabelecimento da energia. Aproveitamos para tomar um chimarrão e depois fazer o almoço.
Às 16 horas o Carabinero chileno disse que o paso continuaria fechado até o outro dia. Houve muita discussão entre alguns Carabineros e um grupo grande de argentinos que estavam despreparados para a situação (sem comida, água e vestuário para o frio). Já que teriam que pernoitar ali ou voltar até Copiapó. Nós estávamos bem aclimatados, com tempo, comida, água e equipados para o pernoite. Então o nosso pernoite foi dentro da aduana chilena com direito a vinho.
Creio que o Pedro que estava feliz pelo cumes conquistados até então. Se empolgou um pouco além da conta.
No dia 06/03 esperamos todos que estavam na aduana seguirem sua viagem. Então fizemos o tramite para deixar o Chile. Nisso o responsável pela aduana nos receber e disse:
– Finalmente los brasileños. ¡Eres un ejemplo de educación! Ahora los argentinos…
Deixando a rivalidade deles de lado, seguimos a nossa viagem.
Chegamos por volta das 16 horas em Fiambalá na província de Catamarca. Tudo fechado devido ao horário da siesta das 12 até às 19 horas. Uma desgraça para quem viaja! Sem nada para fazer fomos ao Camping El Paraíso e esperamos o comércio abrir. Além da compra da alimentação para a próxima montanha. Também levamos alguns belos bifes de chorizo para o churrasco a noite.
Apesar do Pedro ser vegetariano. Assei alguns vegetais para ele. O milho assado na palha foi novidade e ele adorou. O restante da noite foi tranquila no camping.
Acordamos no dia 07/03 com a proposta de fazer o deslocamento de 177 km até o acampamento base chamado de Mar del Plata a 4650 m de altitude. Após sair da Ruta Nacional 60 um pouco antes do Hotel Cortaderas, entramos em uma estrada de mineradora na direção da Laguna de los Aparejos. Cruzamos o Portezuelo de las Lágrimas.
A partir desta última laguna derivamos por um caminho 4×4 para a Laguna Celeste e na sequência o Balcón del Pissis.
O caminho é belíssimo e surpreendente com mais laguna de outras cores e flamingos.
Vista do Vulcão Patos ou Tres Quebradas 6239 m na divisa da Argentina com o Chile.
A partir desta bela laguna de coloração vermelha, o caminho começa a subir na direção do acampamento base.
A acampamento Mar del Plata fica em um vale no final da trilha 4×4. Possui uma excelente área para acampar, mas sem nenhuma água. Estávamos montando as nossas barracas quando de repente um redemoinho de vento com poeira atingiu em cheio. Gritei para a Luciana segurar a barraca e tivemos sorte. Mas, a do Pedro teve uma das varetas partida pela força do vento.
Para o Pedro era o fim da expedição, pois sem barraca não teria como subir. Por sorte tinha um tubinho metálico e improvisei uma tala para a vareta partida e com silver taipe deixei ela em condição de uso. As fotos abaixo são de outra expedição nossa ao local para mostrar como é o acampamento base.
No restante do dia organizamos os equipamentos, vestuário e alimentação para os demais dias. Nossa estratégia seria de subir em estilo alpino e fazer 2 acampamentos antes de tentar o cume.
No dia 08/03 após desmontar o acampamento e organizar tudo nas cargueiras. Seguimos pelos longos vales até o acampamento intermediário a 5400 metros. No total foram 5,5 km a pé.
O acampamento intermediário é muito bom. Possui uma ótima área com pircas para 4 barracas, do lado está a base do glaciar e com sorte água corrente. Foi um pernoite tranquilo.
No dia 09/03 desmontamos tudo com a intensão de subir até 5800 metros. Ao passar as horas chegamos ao local pretendido para o acampamento, mas não encontramos uma boa área. Seguimos subindo pela borda do glaciar.
Observação: O tracklog que está no final do relato é da nossa última expedição em janeiro de 2022 e nesta fizemos o acampamento a 5750 metros.
Seguimos subindo para encontrar um local adequado. Mas, foi só a 6260 metros de altitude que encontramos uma área plana e protegida por uma grande pedra. Neste dia fizemos 4 km a pé.
Apesar de bem aclimatados, faltou experiência da nossa parte. Não devíamos ter feito um acampamento tão alto sem necessidade. Fez muito frio a noite e tivemos bastante insônia. O único lado positivo de estar tão alto era que poderíamos acordar mais tarde para fazer o cume.
No dia 10/03/2018 acordamos por volta das 08:00 e saímos das barracas para fazer o cume lá pelas 09:30. A maior dificuldade do dia era apenas de cruzar o glaciar inclinado na subida e descida.
Chegamos ao cume do Vulcão Pissis por volta das 13 horas. Cansaço foi apenas o normal devido a hipóxia. O dia estava maravilhoso, mas o frio e o vento eram grandes. Sensação de dever cumprido!
Descemos com bastante cuidado na rampa do glaciar. Chegamos por volta das 15 horas no acampamento avançado totalizando 6,55 km a pé neste dia. O Pedro não quis passar mais uma noite tão alto e resolveu descer. Passei a chave reserva da Tracker para que ele pudesse ter mais conforto e segurança no acampamento base. Eu e a Luciana decidimos ficar, pois pensamos que o horário era tardio. O Pedro somente conseguiu chegar na base depois das 20 horas, já quase escuro.
Novamente fez muito frio a noite e dormimos muito mal. No outro dia a nossa água estava congelando mesmo dentro das garrafas térmicas.
No dia 11/03 guardamos tudo e descemos até a base da montanha. Um trekking de 9,5 km.
Chegamos no acampamento base no final da manhã e já guardamos tudo no carro. Partimos rumo ao mesmo camping de Fiambalá. Novamente chegando durante a maldita siesta. Esperamos até tarde comendo uvas e figos direto do pé para tentar matar a fome crônica. Por fim fizemos outro churrasco tardio para comemorar. Esqueci até de tomar banho e a Luciana ficou indignada!
Nos dias 12 e 13/03 fizemos uma bela viagem de regresso ao Brasil com mais de 1800 km.
Sem dúvidas que foi uma expedição espetacular com êxito em 3 das 6 mais altas montanhas dos Andes. Conhecemos o Pedro Abrão, fizemos montanhas juntos e somos amigos até hoje. Um grande aprendizado!
Procedimento para obter a autorização para o Pissis:
É necessário preencher este formulário.
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe_myGzSRZm8DawD0khhZoug0tFKcN0un97U7cIxY3zaBuuOw/viewform
A resposta será dada por e-mail. Será necessário levar o e-mail impresso e apresentar na Oficina de Turismo de Fiambalá. Depois só seguir as instruções dadas por eles.
Nosso tracklog: https://www.wikiloc.com/mountaineering-trails/pissis-6795-m-115943639
Nossa próxima expedição ao Pissis: https://clubetrekking.com.br/travessias/pissis/
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Autor: Tiago Korb Guia desde 2007 pelo Clube Trekking. Guiou 17 cumes andinos diferentes acima dos 6000 metros: Aconcágua (6962m pela rota 360º), Ojos del Salado (6893m – 2x), Pissis (6795m), Mercedário (6720m – 2x), San Francisco (6018m), Fraile (6061m), Barrancas Blancas (6119m), Vicuñas (6067m), Peñas Blancas (6037), Ermitaño (6146m) e Nevado Famatina (6115m), Bonete Chico (6759m), Aracar (6095m), Quewar (6140m), Llullallaico (6752m), Antofalla (6440m), Laguna Blanca (6018m). Proprietário do Clube Trekking Santa Maria e da Loja Bota na Trilha. |