Saímos por volta das 09:30 do Paso Socompa no dia 22/03/2022. Nossa pretensão era de chegar o mais próximo possível do Vulcão Antofalla 6464 metros. Disse “pretensão”, pois não fazíamos ideia de como era o longo caminho 4×4 com 208 km.
No caminho novamente avistávamos o Llullaillaco 6752 metros que havíamos escalado até a véspera. Bem como o Salar do Llullaillaco, o caminho Inca original (Qhapaq Ñan), Campo de Piedra Pomez del Cerro Negro, Mina La Casualidad, Mina la Puna, Salar Rio Grande e por fim Salar Archibarca.
O caminho 4×4 é fantástico e terrivelmente isolado! Por fim, por volta das 18:20 entramos na trilha 4×4 que levava ao Antofalla, 23 km no total. Presumi que chegaríamos até o acampamento avançado a 5080 metros já que o sol ainda estava alto no céu.
Contudo, havia conversado com o Pedro Hauck antes de ir. Ele, Maria Tereza Ulbrich, Gabriel Tarso e Waldemar Niclevicz eram os únicos brasileiros que fizeram cume. O Pedro me advertiu que haviam 2 pontos complicados para passar. Um ponto era um rio seco e o outro um ponto sem volta devido a inclinação da subida no retorno, pois o carro não teria força para subir.
O tracklog do GPS que tinha já não era tão bom. Pois a passagem do rio havia mudado. Por sorte havia um rastro de 4×4 que pudemos seguir. Mais acima o caminho que o Hauck me disse que seria a pé, já tinha um rastro 4×4 contornando um morro pela esquerda. Seguimos até o segundo ponto que ele me alertou. Ao chegar lá analisei e cheguei a conclusão que daria para voltar por ali. Por fim, já no inicio da noite chegamos a um bom local para montar o acampamento avançado a 5080 metros de altitude.
Já tarde da noite após organizar o acampamento e jantar. Recebemos a previsão do tempo pelo Inreach Garmin e com ela a notícia que o melhor dia de cume não seria no dia 23, mas no dia seguinte.
A madrugada foi bastante fria com -11 ºC. Acordamos no dia 23/03 e ficamos no acampamento base esperando a janela do cume. Sem ter o “anticongelante” do Diesel, dei a partida no motor e deixei mais de 30 minutos para esquentar o motor. À noite organizamos tudo para o ataque ao cume. Ainda pelas 20 horas após o jantar já dormimos.
No dia 24/03 acordamos tarde, pois como estávamos bem aclimatados queríamos evitar de caminhar no frio extremo. Novamente havia feito abaixo de -11 ºC e após um bom café da manhã com bastante chá para hidratação. Partimos para a tentativa de cume por volta das 07:40.
No começo do trekking caminhamos pelo leito do rio seco, mas o trajeto era mais para a esquerda. Cortamos caminho na direção dele e encontramos outra trilha 4×4 que levava até um bom local para estabelecer um acampamento a 5330 metros de altitude.
Já com sol e sem vento a temperatura se elevou e tivemos que guardar os pesados casacos de pluma. O restante da longa subida da montanha foi seguindo rastros de pegadas e na maior parte do tempo abrindo o próprio caminho.
Até que enfim às 13:45, eu e a Luciana Moro pisamos no cume do Vulcão Antofalla 6464 metros.
Foi novamente uma grata surpresa encontrar madeira que os Incas deixaram no cume. Não só isso, mas também o cume inteiro foi nivelado para os cerimoniais que eles preparavam.
Aproveitamos a linda vista no cume por 1 hora. Então iniciamos a longa descida para o acampamento avançado.
Finalmente às 17:10 chegamos ao acampamento avançado a 5080 metros.
No total caminhamos 11,929 km entre ida e volta para o cume. Foram 1350 metros de aclive acumulados e outros 1350 metros de declive acumulados.
Dei a partida no carro para esquentar o motor e fazer o combustível circular a partir do tanque. Enquanto matávamos a fome com um saco inteiro de batatas fritas, pensávamos se valeria a pena sair dali neste dia. Nossa decisão foi não sair dali, pois estávamos cansados e não teríamos boas opções para montar acampamento protegido. O restante da tarde e noite foram tranquilos e até olhamos um filme no celular.
Despertamos naturalmente no dia 25/03 e novamente fez abaixo de -11 graus. Já saí da barraca direto para o carro para dar a partida. Após alguma insistência o motor funcionou. Entretanto, o motor desligou 3 minutos depois. Abri o capô e bombeei mais combustível para o filtro do diesel. Novamente ligou e durou pouco tempo.
Foram inúmeras tentativas em vão. Alertei a Luciana que deveríamos aproveitar para descer a montanha o mais breve possível. Já que em altitude menor seria mais quente e o carro provavelmente funcionaria melhor. Por volta das 11 horas iniciamos nossa descida ao estilo “start stop”. Hoje faço piada da situação, mas no dia era angustiante estar tão longe de qualquer auxílio.
Conseguimos rodar relativamente sem grande dificuldade descendo a montanha. Pois o sistema de freio hidráulico funcionou bem mesmo com o carro morrendo a toda hora. Contudo, chegamos naquela subida que o Hauck disse que era inviável. Bombeava combustível e ligava o carro para andar 10 metros subindo o morro na reduzida. Isso durou mais de hora até que finalmente a linha de combustível do tanque para o motor foi desobstruída. Ufa!
Finalmente às 16 horas chegamos no povoado de Antofalla na província de Catamarca. Um local escondido e pequeno, mas com um salar homônimo gigante. Não havia nada para fazer ali ou mesmo onde pernoitar. Então decidimos tentar chegar em Antofagasta de La Sierra.
Subindo do outro lado do salar cruzamos pelo povoado indígena de Kolla Atacameña a 4635 metros de altitude. Ao lado do povoado a Vega Colorada é belíssima e avistamos até um bando de Suri além das Vicuñas e Lhamas.
Na descida para Antofagasta de La Sierra o motor desligou outras vezes. Parava na estrada e esperava novamente o filtro do diesel voltar a ficar cheio para dar a partida. Por conta desse percalço somente chegamos na cidade às 18:40. No total foram 173 km de estradas 4×4.
No povoado enchemos o tanque do carro, pois ainda iríamos para o Nevado Laguna Blanca 6018 m. Encontrei no posto Shell o tão esperado “anticongelante” para o diesel e imediatamente coloquei no tanque toda dose do frasco.
Não encontramos boas opções para dormir na cidade por ser uma sexta-feira e todas hospedagens estarem lotadas. Com uma fome crônica já partimos para o plano B, churrasco + camping selvagem. Compramos carne bovina ao dobro do preço que estávamos acostumados, já que ali só havia carne de Lhama. Partimos na direção de El Peñón no final da tarde com a intenção de achar um lugar para ficar.
No Ioverlander haviam várias opções que fomos descartando devido a velocidade do vento. Já à noite encontramos um local protegido na entrada da trilha para o Vulcão Antofagasta. Montamos a barraca do lado do carro e cavamos um buraco para fazer a fogueira dentro. O assado não tardou para ficar pronto e devoramos este acompanhado de 2 litros de Quilmes.
Nossa expectativa estava muito abaixo do que vivenciamos. A Puna de Salta e Catamarca é fantástica! O Vulcão Antofalla tem um visual incrível, uma aproximação 4×4 longa do jeito que gosto e ainda bem que tudo deu certo.
Nosso tracklog: https://www.wikiloc.com/hiking-trails/vulcao-antofalla-6464-m-118200463
Próxima expedição que iremos conduzir neste local: https://clubetrekking.com.br/travessias/quewar-llullaillaco/
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Autor: Tiago Korb
Guia desde 2007 pelo Clube Trekking.
Guiou 17 cumes andinos diferentes acima dos 6000 metros:
Aconcágua (6962m pela rota 360º), Ojos del Salado (6893m – 2x),
Pissis (6795m), Mercedário (6720m – 2x), San Francisco (6018m), Fraile (6061m), Barrancas Blancas (6119m), Vicuñas (6067m), Peñas Blancas (6037), Ermitaño (6146m) e Nevado Famatina (6115m), Bonete Chico (6759m), Aracar (6095m), Quewar (6140m), Llullallaico (6752m), Antofalla (6440m), Laguna Blanca (6018m).
Proprietário do Clube Trekking Santa Maria e da Loja Bota na Trilha.